segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Armandinho

Armando Augusto Freire de seu verdadeiro nome, Armandinho foi uma figura de importância sem igual na evolução do fado em Portugal. Verdadeira ponte entre duas eras e duas concepções do fado - o século XIX, com a sua conotação marginal e trágica, e o século XX com a popularização do género finalmente abraçado pelo grande público - deveu-se-lhe um notável trabalho de fixação de melodias e toda uma nova maneira de abordar a guitarra portuguesa.

Nascido em 1891, Armandinho viveu de perto os anos da popularização do fado e foi discípulo de Petrolino, alcunha pela qual ficou conhecido o guitarrista setubalense Luís Carlos da Silva, que fizera parte do sexteto de João Maria dos Anjos, reconhecido como o maior expoente do instrumento no século XIX.

No início do século XX, como nota Ruben de Carvalho no seu livro As Músicas do Fado, a vedetização dos cantadores e cantadeiras de fado veio de certa maneira subalternizar os guitarristas, que passaram de solistas virtuosos a meros acompanhantes. Armandinho inverteu essa tendência, ao adaptar a sua técnica a cada um dos fadistas que acompanhava, entrando como se fosse em diálogo com os cantores, sublinhando ou reforçando as suas características pessoais. Assim, sem se sobrepor aos fadistas, Armandinho devolvia à guitarra um papel proeminente no fado, impondo lentamente, com toda uma nova geração que seguia os seus passos - como Martinho d´Assunção, seu companheiro quase vinte anos mais novo - um novo estilo de acompanhar fado que continua nos nossos dias.

Mas não foi esta a única inovação que Armandinho trouxe ao fado. Como um dos membros fundadores, em 1927, da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses - antecessora da SPA - Armandinho responsabilizou-se pela recolha de inúmeras melodias da tradição fadista e pela creditação dos seus autores naquela sociedade, trabalho paciente que hoje nos permite conhecermos muitas das composições mais antigas do género.

Acompanhou muitos dos maiores fadistas portugueses da primeira metade do século XX e foi igualmente por sua iniciativa que muitos deles se inscreverem na SECTP, entre os quais Alfredo Marceneiro. Armandinho foi também empresário do Salão Artístico de Fados, inaugurado em 1930 no Parque Mayer, e gravou poucos discos, insuficientes, infelizmente, para que hoje o seu talento seja devidamente admirado, pois são anteriores à popularização do disco.
Armandinho faleceu em 1946.


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